quarta-feira, agosto 01, 2007

Livro inédito de Santos Dumont

Familiares descobrem um livro inédito de Santos-DumontEm meio a uma coleção de papéis velhos, um livro inédito escrito de próprio punho por Alberto Santos-Dumont acaba de ser descoberto por familiares do inventor brasileiro. A obra revela detalhes que podem revolucionar a forma como os historiadores entendem os métodos de trabalho do célebre aeronauta.O livro não tem nome -- é uma coleção de artigos extensos, aproximadamente uma dúzia, que foram escritos ao redor de 1902. "Não há data nos papéis, mas a história vai até o Prêmio Deutsch, que Santos-Dumont ganhou em outubro de 1901", contou ao G1 Alberto Dodsworth Wanderley, sobrinho-bisneto do inventor, que está de posse dos originais.Misturando dados de sua própria trajetória aos conhecimentos que tinha da arte da navegação aérea e suas ciências correlatas, Santos-Dumont oferece lampejos sobre suas inspirações e seus métodos de trabalho. "Até hoje, os estudiosos pensavam que Santos-Dumont trabalhava em seus inventos de forma muito intuitiva", diz o físico Henrique Lins de Barros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, um dos maiores especialistas sobre a vida e a obra do aeronauta brasileiro. "Este manuscrito revela muito do conhecimento por trás desse trabalho. O grau de informação científica que Santos-Dumont demonstra ter aqui mostra que ele não estava trabalhando por intuição, tateando às cegas -- ele sabia exatamente o que estava fazendo." Obra audaciosa Ao escrever esses artigos, Santos-Dumont claramente tinha por objetivo redigir a obra definitiva sobre o vôo. No primeiro capítulo, "Como me tornei um aeronauta", o inventor relata o que o levou a perseguir a improvável carreira. Estabelecido seu interesse pelo tema, ele passa a costurar tudo que havia para conhecer sobre a história do vôo humano até então -- a começar pela mitologia. O segundo capítulo ("Aerostação mitológica") recupera até mesmo a velha narrativa grega de Ícaro e Dédalo, que teriam construído asas artificiais para fugir do labirinto de Creta.A partir daí, ele narra os experimentos dos irmãos franceses Montgolfier, que teriam realizado os primeiros vôos tripulados de balão. "É incrível a sensibilidade de Santos-Dumont, ao imaginar e descrever Montgolfier deitado e olhando para as nuvens", diz Wanderley. "Há trechos belíssimos, ele tinha um jeito muito especial de escrever."Entremeado por dados científicos que denotavam todos os conhecimentos do inventor, Santos-Dumont conclui narrando a evolução do campo até chegar a seus próprios esforços, que culminaram com a vitória no Prêmio Deutsch -- tido como o marco de conquista da dirigibilidade dos balões.Por alguma razão misteriosa, esse material jamais foi publicado. Pouco tempo depois, em 1904, Santos-Dumont lançaria seu primeiro livro autobiográfico, "Dans l'air" (traduzido para o português como "Os Meus Balões"). Ele ainda lançaria outra autobiografia, em 1918 ("O que Eu Vi, o que Nós Veremos"), e escreveria um terceiro livro (nunca publicado, mas já conhecido pelos historiadores), "O Homem Mecânico", em 1929.Letra miúda, em francês"Na realidade, é um monte de papel, numerado sequencialmente, de 1 a 312", diz Alberto Dodsworth Wanderley, ao mencionar a descoberta do manuscrito. "Por isso tivemos a noção de que se tratava de um livro."O material, escrito em francês e a mão, não está completo. Pela numeração, percebe-se que algumas páginas estão faltando. "Mas é muito pouco, coisa de 15 páginas", diz Wanderley. "O que é impressionante, se levarmos em conta que são documentos de mais de cem anos, que até pouco tempo eu nem sabia que existiam."O livro e outros papéis estavam originalmente na casa de Santos-Dumont em Petrópolis, "A Encantada", de onde foram tirados quando da morte do inventor, em 1932. O material ficou perdido por muitos anos, até ser "redescoberto" num baú de vime no porão de uma das casas da família, no bairro do Flamengo, no Rio. Desde então, o "acervo" passou às mãos de Nelson Freire Lavanère Wanderley e sua esposa, Sophia Helena Dodsworth Wanderley -- os pais de Alberto Dodsworth Wanderley.Boa parte desse material foi catalogada cruamente por Nelson ao longo dos anos. Ele dividiu as fotos e os inúmeros recortes de jornal em cinco volumes encadernados, por ordem cronológica. Já previamente trabalhado, esse pacote de documentos foi recentemente doado ao Centro de Documentação e Histórico da Aeronáutica (Cendoc), que está organizando o acervo em parceria com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), no Rio de Janeiro.Com a morte de Sophia Helena, Alberto passou a ser o responsável pelos materiais. A doação dos cinco volumes preparados por seu pai, também morto, já estava acertada, mas havia outros papéis que estavam numa gaveta e não chegaram a ser catalogados. Entre eles havia duas pastas -- uma com os originais do livro, outra com uma tradução feita por Sophia Helena e revisada por Nelson.Alberto no momento trabalha na digitação e na redação de notas de pesquisa da tradução dos originais. "Completei mais ou menos um terço", diz ele. Assim que concluir o trabalho, passará a procurar uma editora interessada em publicar o livro.Popstar da aeronáuticaNa época em que escreveu o livro "perdido", Santos-Dumont experimentava o auge da fama -- que, ao contrário do que a maioria pensa, ocorreu por seus trabalhos com balões, não com aviões. O inventor brasileiro foi o primeiro a combinar a tecnologia dos balões de hidrogênio (gás altamente inflamável) à dos motores movidos a gasolina (que na época não eram muito confiáveis e soltavam muitas faíscas).Graças a isso, e contrariando os muitos inventores que o classificavam como maluco, ele conseguiu desenvolver os primeiros balões realmente dirigíveis. O sucesso foi coroado em 19 de outubro de 1901, quando Santos-Dumont conquistou o Prêmio Deutsch -- pequena fortuna de 100 mil francos que seria dada ao primeiro que, com um dirigível, partisse de St-Cloud, nos arredores de Paris, contornasse a torre Eiffel e retornasse ao ponto de partida, percorrendo os 11 quilômetros em até 30 minutos.Com a vitória, Santos-Dumont, aos 28 anos de idade, foi definitivamente catapultado para a celebridade. Passou a ser ainda mais assediado pela imprensa (que já acompanhava as peripécias do inventor desde o fim dos anos 1890), recebeu cartas de outros grandes inventores, como Thomas Edison (1847-1931) e Guglielmo Marconi (1874-1937), e foi cortejado por grandes autoridades, como Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, que o recebeu na Casa Branca em 1902.Durante a visita aos ianques, naquele ano, Santos-Dumont também esteve com Edison, e no livro ele reconta sua conversa com o inventor americano. Esse episódio, um dos últimos mencionados na obra inédita, também ajuda a datá-la.

Fonte: SI - www.plugar.com.br

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